'Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo', de Radu Jude
Apesar da singela cristalização do passado no presente em 'Folhas Caídas' (Aki Kaurismäki); apesar de toda a profundidade vertida no rosto de Federica Rosellini, e com a música de Thom Yorke, em Confidenza (Daniele Luchetti); apesar da singularidade do cinema de grafomania em Fire Supply (Lucía Seles), apesar de tudo isso, a escolha para o Nosso Melhor Filme do Ano (2024) recai em 'Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo', de Radu Jude. Sucede assim a 'Dias Perfeitos' (Wim Wenders), e, em comum entre os dois filmes, há como que uma simplicidade terrena que nos consegue chamar à vida, que nos faz repousar para olharmos em redor, prestando real atenção àquilo que acontece à nossa volta. Wenders apela-nos à necessidade de vivermos (efetivamente) um momento de cada vez, sem ânsia desenfreada de passarmos ao próximo, ao seguinte; Jude convoca-nos para a necessidade de constatarmos o ritmo acelerado em que a vida segue rumo ao abismo, num caminho concertado entre a verborreia do populismo tóxico e a perpetuação de um neoliberalismo selvático. Hirayama, um homem comum no Japão, no filme de Wenders; as Angelas - do passado e do presente -, duas mulheres comuns na Roménia, no filme de Jude, conferem essa simplicidade terrena que une o cinema à vida, e a vida ao cinema, fazendo dos respetivos filmes um cinema que é para todos, que pode ser visto de variados prismas e perspetivas.
Leia aqui o escrito original sobre 'Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo', de Radu Jude
'Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo', de Radu Jude (2023)